Eu tenho ficado cada dia
mais perplexo com a situação desse país.
Há uma greve de
caminhoneiros acontecendo e não vou discutir quem chamou a greve e quais seus
possíveis interesses escusos. O fato é que o valor do combustível se tornou
insustentável.
Mas a versão de que a culpa
da alta dos preços é dos governos Lula e Dilma de fato me deixa perplexo em ver
como as pessoas não conseguem ter qualquer noção básica da história desse país
e muito menos do atual processo em que estamos inseridos.
É no mínimo ilógico e
insustentável criticar o preço alto e ao mesmo tempo culpar os governos Lula e
Dilma por isso.
O argumento dessas pessoas,
(especialmente de alguns velhacos da dita "nova política", que no
fundo não passa da velha politica que migrou para novos partidos munidos das
mesmas ideias. Por exemplo, o tal Carlos Viana, que deseja ser senador em Minas
pelo PHS) é que os governos petistas não reajustaram paulatinamente os preços e
agora força os reajustes abruptos.
Ora, mas então quer dizer
que a questão é o susto do preço subir demais? Porque se tivesse havido reajustes
paulatinos, nós, consumidores, estaríamos pagando mais caro a mais tempo. Isso
é uma questão de lógica.
Outra coisa que me deixa
perplexo é a insistência em dizer que os aumentos de preços vieram a ocorrer
para suprir rombos dos governos Lula e Dilma. Infelizmente, a grande mídia tem
vendido essa ideia a população, que a compra, sem compreender a realidade.
Talvez, relembrar um pouco
os fatos ajude a aqueles que estiverem a ler esse texto a compreenderem o que
me deixa tão perplexo.
Em 2013, antes das
manifestações do mês de Junho, o Brasil vivia uma situação de extrema
estabilidade. O preço do dólar estava controlado. O Brasil tinha a menor taxa
de desemprego da sua história. A presidente gozava de uma popularidade de mais
de 70% e a previsão era de crescimento do PIB, em uma realidade em que vários
países sofriam com PIbs negativos desde 2008. Era uma realidade em que a
economia brasileira recebia elogios de indivíduos como Paul Krugman e Joseph
Stiglitz, ambos ganhadores de prêmios Nobel de Economia.
Como dizer que havia um
rombo econômico nessa realidade? Esse rombo não existia. A nossa economia era
saudável até esse momento. As projeções para os anos posteriores era de
crescimento, ainda que modesto, bem como de pleno emprego e preços controlados.
E antes que alguns digam, a petrobrás não estava falida, muito pelo contrário,
pois seus lucros eram substanciais e o pré-sal seguia se desenvolvendo bem, e
tudo isso, sem a necessidade de colocar preços exorbitantes nos serviços
públicos. O preço da gasolina orbitava em torno de 2,60 a 3,00 reais,
dependendo da região e localidade no país.
O rombo foi produzido
posteriormente, a partir, primeiramente, das manifestações de junho, que
fizeram o país e o governo caírem em um processo de deslegitimidade. Naquele
momento houve queda das bolsas, queda de ações de diversas estatais e ainda, se
iniciou o propagandeamento de que estávamos a ponto de sofrer uma crise. E como
bem sabemos, a propaganda é a alma do negócio. Walter Lippman, Noam Chomsky e
Bauman, dentre outros, já nos advertiram sobre os processos produzidos em torno
das propagandas e de como a opinião pública é a opinião publicada, que por sua
vez, pode influir drasticamente na realidade.
As manifestações e a
propaganda de uma crise eminente produziram a crise eminente que se estava
propagandeando. Afinal de contas, o capitalismo atual se baseia em grande parte
na atividade de investidores. E qual investidor irá investir em um país que se
propagandeia estar em uma crise eminente? Nossa economia foi bombardeada por
todo o tipo de previsão catastrófica de crise, alardeada pela oposição, que
desejava vencer as eleições em 2014, e pela mídia, que apoiava essa oposição.
O resto da história todos
nós conhecemos. A oposição perdeu a eleição, mas a presidenta herdou um país
esfacelado, com uma crise sendo instalada e acabou derrubada por um golpe de
Estado.
Não é por acaso que nas
eleições de 2014 tantos economistas, de diversas universidades brasileiras,
fizeram cartas coletivas em apoia a candidatura de Dilma, pois apoiavam o que
estava ocorrendo naquele governo em relação a economia. Então, essa versão de
que os aumentos de preços foram causados por má gestão de Lula e Dilma não se
sustentam. Lula pegou o país quebrado e o entregou para Dilma com os melhores
índices econômicos da história brasileira. E Dilma, até antes das manifestações
de junho de 2013, seguia o mesmo caminho.
Então, esses aumentos
abusivos de preços não vieram de um legado de rombo, mas sim, de um governo
ilegítimo que sob inúmeros aspectos deseja estancar um pouco da crise que criou
para derrubar o seu rival político, mas, principalmente porque essa sempre foi
a proposta da direita, manter combustíveis e outros serviços inacessíveis a
maior parte da população e garantir a lucratividade de acionistas abastados.
(Eu mesmo denunciei isso na época da eleição. A proposta da direita, por via de
seu candidato principal na época, Aécio Neves, era elevar naquele momento a
gasolina ao valor de 3,50, algo que considerávamos um preço absurdo http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/todo-o-alvoroco-do-psdb-em-cima-da.html
http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/o-motivo-das-acoes-subirem-na-bovespa.html)
Os motivos para a direita
sempre propor esse tipo de coisa já conhecido: elitismo, desejo de uma mão de
obra barata, manter privilégios, enfim, a velha luta de classes. E o interessante
dessa versão em que a direita toma o governo, cria o caos econômico e depois
culpa os governos de esquerda por um rombo também já foram também denunciados
por mim em 2014, quando vi essa perspectiva em vias de ocorrer. Porém, naquele
momento, eu achava que tal coisa ocorreria via eleições e jamais por um golpe (http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/como-aecio-neves-quebrara-o-brasil-e.html).
Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela PUC-MG e Mestre em História, pelo programa de pós-graduação em História da UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.