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24 maio 2018

Postado Por: Átila Siqueira.  |  Em:


Eu tenho ficado cada dia mais perplexo com a situação desse país.


Há uma greve de caminhoneiros acontecendo e não vou discutir quem chamou a greve e quais seus possíveis interesses escusos. O fato é que o valor do combustível se tornou insustentável.


Mas a versão de que a culpa da alta dos preços é dos governos Lula e Dilma de fato me deixa perplexo em ver como as pessoas não conseguem ter qualquer noção básica da história desse país e muito menos do atual processo em que estamos inseridos.


É no mínimo ilógico e insustentável criticar o preço alto e ao mesmo tempo culpar os governos Lula e Dilma por isso.


O argumento dessas pessoas, (especialmente de alguns velhacos da dita "nova política", que no fundo não passa da velha politica que migrou para novos partidos munidos das mesmas ideias. Por exemplo, o tal Carlos Viana, que deseja ser senador em Minas pelo PHS) é que os governos petistas não reajustaram paulatinamente os preços e agora força os reajustes abruptos.


Ora, mas então quer dizer que a questão é o susto do preço subir demais? Porque se tivesse havido reajustes paulatinos, nós, consumidores, estaríamos pagando mais caro a mais tempo. Isso é uma questão de lógica.


Outra coisa que me deixa perplexo é a insistência em dizer que os aumentos de preços vieram a ocorrer para suprir rombos dos governos Lula e Dilma. Infelizmente, a grande mídia tem vendido essa ideia a população, que a compra, sem compreender a realidade.


Talvez, relembrar um pouco os fatos ajude a aqueles que estiverem a ler esse texto a compreenderem o que me deixa tão perplexo.


Em 2013, antes das manifestações do mês de Junho, o Brasil vivia uma situação de extrema estabilidade. O preço do dólar estava controlado. O Brasil tinha a menor taxa de desemprego da sua história. A presidente gozava de uma popularidade de mais de 70% e a previsão era de crescimento do PIB, em uma realidade em que vários países sofriam com PIbs negativos desde 2008. Era uma realidade em que a economia brasileira recebia elogios de indivíduos como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, ambos ganhadores de prêmios Nobel de Economia.


Como dizer que havia um rombo econômico nessa realidade? Esse rombo não existia. A nossa economia era saudável até esse momento. As projeções para os anos posteriores era de crescimento, ainda que modesto, bem como de pleno emprego e preços controlados. E antes que alguns digam, a petrobrás não estava falida, muito pelo contrário, pois seus lucros eram substanciais e o pré-sal seguia se desenvolvendo bem, e tudo isso, sem a necessidade de colocar preços exorbitantes nos serviços públicos. O preço da gasolina orbitava em torno de 2,60 a 3,00 reais, dependendo da região e localidade no país.


O rombo foi produzido posteriormente, a partir, primeiramente, das manifestações de junho, que fizeram o país e o governo caírem em um processo de deslegitimidade. Naquele momento houve queda das bolsas, queda de ações de diversas estatais e ainda, se iniciou o propagandeamento de que estávamos a ponto de sofrer uma crise. E como bem sabemos, a propaganda é a alma do negócio. Walter Lippman, Noam Chomsky e Bauman, dentre outros, já nos advertiram sobre os processos produzidos em torno das propagandas e de como a opinião pública é a opinião publicada, que por sua vez, pode influir drasticamente na realidade.


As manifestações e a propaganda de uma crise eminente produziram a crise eminente que se estava propagandeando. Afinal de contas, o capitalismo atual se baseia em grande parte na atividade de investidores. E qual investidor irá investir em um país que se propagandeia estar em uma crise eminente? Nossa economia foi bombardeada por todo o tipo de previsão catastrófica de crise, alardeada pela oposição, que desejava vencer as eleições em 2014, e pela mídia, que apoiava essa oposição.


O resto da história todos nós conhecemos. A oposição perdeu a eleição, mas a presidenta herdou um país esfacelado, com uma crise sendo instalada e acabou derrubada por um golpe de Estado.


Não é por acaso que nas eleições de 2014 tantos economistas, de diversas universidades brasileiras, fizeram cartas coletivas em apoia a candidatura de Dilma, pois apoiavam o que estava ocorrendo naquele governo em relação a economia. Então, essa versão de que os aumentos de preços foram causados por má gestão de Lula e Dilma não se sustentam. Lula pegou o país quebrado e o entregou para Dilma com os melhores índices econômicos da história brasileira. E Dilma, até antes das manifestações de junho de 2013, seguia o mesmo caminho.


Então, esses aumentos abusivos de preços não vieram de um legado de rombo, mas sim, de um governo ilegítimo que sob inúmeros aspectos deseja estancar um pouco da crise que criou para derrubar o seu rival político, mas, principalmente porque essa sempre foi a proposta da direita, manter combustíveis e outros serviços inacessíveis a maior parte da população e garantir a lucratividade de acionistas abastados. (Eu mesmo denunciei isso na época da eleição. A proposta da direita, por via de seu candidato principal na época, Aécio Neves, era elevar naquele momento a gasolina ao valor de 3,50, algo que considerávamos um preço absurdo http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/todo-o-alvoroco-do-psdb-em-cima-da.html http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/o-motivo-das-acoes-subirem-na-bovespa.html)

Os motivos para a direita sempre propor esse tipo de coisa já conhecido: elitismo, desejo de uma mão de obra barata, manter privilégios, enfim, a velha luta de classes. E o interessante dessa versão em que a direita toma o governo, cria o caos econômico e depois culpa os governos de esquerda por um rombo também já foram também denunciados por mim em 2014, quando vi essa perspectiva em vias de ocorrer. Porém, naquele momento, eu achava que tal coisa ocorreria via eleições e jamais por um golpe (http://brasilemdiscussao.blogspot.com.br/2014/10/como-aecio-neves-quebrara-o-brasil-e.html).


Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela PUC-MG e Mestre em História, pelo programa de pós-graduação em História da UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.

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