Atualmente a grande maioria das siglas partidárias brasileiras
possuem algum tipo de envolvimento em acusações sobre corrupção. Mas acusação é
diferente de condenação e culpa. Para alguém ser considerado de fato corrupto,
culpado e “fixa suja”, precisa ser condenado por algum crime de corrupção.
Acusações apenas não bastam para classificar alguém como corrupto.
Contudo, algumas considerações precisam ser feitas sobre a forma
como o PSDB, na campanha presidencial de Aécio Neves e na campanha estadual de
Pimenta da Veiga, age com relação a esse assunto, tratado por eles com dois
pesos e duas medidas.
As duas campanhas enfatizam drasticamente a ideia de que o
governo federal do PT nas gestões de Lula e de Dilma Rousseff tiveram graves
escândalos de corrupção. Não estão errados em dizer isso, porém, eles tratam
denúncias como casos encerrados e com isso fazem dois pesos duas medidas, pois
seus governos são alvos também de inúmeras acusações e graves escândalos, com a
diferença que a maioria deles não foram sequer investigados e acabaram
literalmente engavetados.
Denúncias sobre corrupção na Petrobrás, por exemplo, foram
feitas aos montes durante o governo de FHC, em que Aécio Neves exercia mandato
de deputado federal e era líder da base governista e da câmara dos deputados.
No mesmo período Pimenta da Veiga era ministro do mesmo governo e ambos são do
mesmo partido de FHC, o PSDB. Até uma plataforma chegou a ser afundada no mar e
as investigações sobre todos esses casos nunca avançaram, foram esquecidas e
até hoje a sociedade não teve uma resposta sobre o assunto.
Os casos de compras de votos também são extensos, a começar
pela denúncia de compra de votos para a reeleição de FHC, seguida do mensalão
do PSDB, que ocorreu em Minas Gerais, no governo do governador Eduardo Azeredo,
do PSDB. Pimenta da Veiga é diretamente citado como investigado no caso. Aécio
Neves era deputado pelo PSDB e um dos principais articuladores entre o governo
de Minas Gerais e o governo federal de FHC, também do PSDB.
Pulando vários casos, que podem ser achados facilmente na
internet, outro caso recente e significativo foi a da construção de um
aeroporto na cidade de Cláudio, feito pelo governo de Minas na gestão de Aécio
Neves do PSDB, construído dentro das terras da fazenda de um tio avô de Aécio.
Outros aeroportos construídos no mesmo período possuem problemas semelhantes,
como o de Itabira, que está localizado em um local onde não há nenhum
aeroporto, embora o dinheiro tenha sido gasto. Houve também uma acusação grave
envolvendo o governo de São Paulo, do PSDB, sobre desvio de dinheiro do metrô
de São Paulo, mas o caso tem pouca atenção da grande mídia e sofre tentativas
de abafamento pelo atual governo de São Paulo.
Todos esses casos são acusações e precisariam ser
investigados. Muitos deles já foram arquivados, pois no período FHC a polícia
Federal não tinha tantos equipamentos e nem tanta autonomia quanto adquiriu nos
últimos anos para investigar tudo. O governo daquela época não só negava as
acusações (o que é um direito inquestionável) como não fazia esforços para que
as investigações andassem e ainda buscava abafar os casos. Até hoje, quando
questionados, esses políticos jamais apoiam que os casos sejam reabertos e
investigados.
Mas o ponto central aqui é a forma como Aécio Neves e
Pimenta da Veiga tratam as acusações de corrupção com dois pesos e duas
medidas. Quando as acusações são contra eles elas são apenas acusações. Quando
as acusações são contra seus rivais, elas são prova cabal de corrupção.
Aécio mesmo, nos debates, reclama que a Petrobrás tem
atualmente frequentado muito as páginas policiais e que isso envergonha o
Brasil, como se acusações fossem prova de culpa e como isso provasse que
realmente tenha havido tais casos de corrupção. Seria melhor então fazer como
antes, no governo de FHC, do PSDB, abafando o caso e engavetando o processo?
Mas se o fato de sofrer acusação for um sinônimo de culpa,
então ver o PSDB falar sobre corrupção é como ver um ladrão falar sobre
honestidade, uma vez que se trata de um dos partidos que mais têm acusações em
seu currículo. Aliás, acusações muito mais graves, envolvendo muito mais
dinheiro, como é o caso do metrô de São Paulo, por exemplo.
Nessas eleições de 2014, só para citar outro exemplo, o PSDB
foi o partido que teve o maior número de candidatos barrados pela lei da ficha
limpa. Como então acusar os outros de corrupção com um currículo desses? E o
que dizer das privatizações, como a da Vale do Rio Doce, vendida a preço de
banana e envolvida em denúncias em que membros do PSDB teriam lucrado com essa
venda feita a baixo preço?
Aécio quer se passar como o candidato da ética, mas está no
partido que mais teve candidaturas barradas pela ficha limpa nessa eleição de
2014. Ele é alvo de graves denúncias de corrupção em Minas Gerais, como a dos
aeroportos e outras. Para piorar, mesmo com todas essas acusações que o rodeiam,
ele trata acusações sobre outros candidatos como se fossem casos resolvidos e
diz que está cansado de tanta corrupção na Petrobrás. Mas será que é ético
acusar os outros por casos de corrupção que ainda estão sendo investigados,
quando também se é alvo de investigação em casos semelhantes?
Enfim, com a quantidade de acusações que o PSDB tem nas
costas, o mais correto seria eles nunca falaram desse tema, mas infelizmente
eles foram bem sucedidos em abafar os seus casos e boa parte da população tem
memória curta e já não se lembra mais tão bem dos tempos de FHC, em que havia
desemprego e arrocho salarial crescente, bem como corrupção não investigada e
até racionamento de luz.
Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela
PUC-MG e Mestrando em História, pelo programa de pós-graduação em História da
UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.