A inflação supostamente alta é um dos assuntos que mais
aparecem no debate político das eleições presidenciais de 2014. Boa parte da
oposição ao atual governo federal acusa a presidente Dilma Roussef, candidata a
reeleição pelo PT, de ter deixado a inflação voltar a subir. Um dos principais
acusadores é Aécio Neves, candidato a presidência pelo PSDB.
Realmente os indicadores econômicos apontam que a inflação
ficará no teto da meta estabelecida pelo atual governo, podendo até talvez
passar um pouco dessa meta. Isso não deixa de ser preocupante e com certeza a
inflação precisa ser reconduzida ao centro da meta. Contudo, esse debate vai
para alem disso, pois aqueles que acusam o atual governo usam essa situação
como arma política para desqualificar a candidata do PT a reeleição, produzindo
discursos descontextualizados com a realidade política e econômica do país,
deixando de considerar a crise econômica mundial e também os índices de
inflação anteriores e dos governos estaduais.
O principal candidato e partido a usar o discurso da
inflação é Aécio Neves, do PSDB. Ele diz que o governo está falido, que
perdemos competitividade e que a inflação voltou a crescer. Mas é interessante
notar alguns números que talvez possam ajudar na compreensão de como isso tem
sido usado como arma política e como é uma situação que não corresponde à
realidade histórica. Desde a instalação do Plano Real, no Governo de Itamar
Franco, em 1994, tendo como Ministro da Fazenda Rubens Ricupero (que substituiu
FHC, antigo ministro da Fazenda que organizou a equipe econômica do Plano
Real); a inflação no Brasil foi drasticamente diminuída.
No primeiro
governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, a média de inflação ficou em
9,8%. 22,4% em 1995, 9,5 % em 1996, 5,22% em 1997 e
1,6% em 1998. No segundo mandato de FHC sua inflação acumulada ficou em
8,6%. 8,9% em 1999, 5,9% em 2000, 7,6% em 2001 e
12,5% em 2002.
No
governo Lula, do PT, a inflação no primeiro mandato ficou em 6,4%. 9,3% em 2003, 7,6% em 2004, 5,6% em 2005
e 3,1% em 2006. Na segunda
gestão ficou em 5,1%. 4,4% em
2007, 5,9% em 2008, 4,3% em 2009 e 5,9% em 2010. Até agora, por período,
foram às duas gestões com menor inflação.
O
Governo Dilma, do PT, até agora, acumula a média de inflação de aproximadamente
6,1%, conforme as projeções para o fechamento de 2014, podendo talvez variar
até para 6,6%. 6,5% em 2011, 5,8%
em 2012, 5,9% em 2013 e 6,4% a 6,55% em 2014.
Se
olharmos individualmente os anos de governo, veremos que quem teve os maiores
índices de inflação em um ano foi o governo FHC do PSDB, com 22,4% em 1995,
9,5% em 1996, 8,9% em 1999 e 12,5% em 2002. Claro que temos que levar em
consideração que 1995 e 1996 foram anos ainda influenciados pelo período
anterior da hiperinflação. Temos também que dizer que o menor índice histórico
em um ano foi atingido no governo tucano, em 1998, que teve a inflação em 1,6%,
embora o arrocho salarial e o desemprego nesse período tenham ficado, em
contrapartida, assustadoramente altos.
Mas
se falando de economia, inflação é somente uma parte da história. Outros
números precisam ser levados em consideração, como geração de emprego,
crescimento do PIB, comparação entre o PIB de outros países no mesmo período,
além de distribuição de renda e melhoria nas condições de vida da população.
Se
levarmos ainda em consideração que o governo Dilma passou por uma das piores
crises mundiais do capitalismo e mesmo assim conseguiu ter inflação menor do
que o período FHC/PSDB, com mais emprego e mais renda para o trabalhador e sem
criar arrocho salarial, os resultados não são tão ruins como prega o candidato
Aécio Neves. Pensemos, por exemplo, no PIB brasileiro por períodos.
No
primeiro mandato de FHC, a média do crescimento do PIB ficou em: 2,5%. Na
segunda gestão ficou em torno de 2,1%.
O
governo Lula teve 3,6% de crescimento do PIB no primeiro mandato e 4,6% no
segundo.
Dilma,
até o presente momento apresenta 1,8% de crescimento.
Contudo,
no governo Dilma a crise mundial arrasou boa parte da Europa. A Espanha, por
exemplo, chegou a ter 26% de desemprego, junto a vários outros países. No mesmo
período, Dilma conseguiu diminuir o desemprego no Brasil, criando mais postos
de trabalho com carteira assinada, aumentando o número de empresas criadas e
diminuindo o número de falências.
O
governo Lula teve resultados semelhantes, criando emprego e renda para os
trabalhadores mais pobres. As três gestões do PT na presidência foram bem
avaliadas pela ONU, como exemplos de combate as desigualdades sociais. Já o
governo FHC, do PSDB, teve arrocho salarial e desemprego.
O
que eu me pergunto então é como Aécio Neves do PSDB, tendo feito parte da base
aliada do governo FHC/PSDB, tem a coragem de falar em inflação alta e baixo
crescimento do PIB, quando o governo do seu partido, teve resultados muito
piores, tendo sido Aécio nesse período líder da Câmara dos Deputados?
Aécio
Neves pode tentar se desvencilhar de FHC e da antiga gestão federal do PSDB,
mesmo ele tendo sido um dos principais membros da base aliada daquele governo.
Porém, será que ele pode se desvencilhar então do governo de Minas Gerais, onde
ele foi governador por dois mandatos e reelegeu Antônio Anastasia, seu
principal aliado no Estado?
O
governo de Minas amarga alguns resultados estranhos no quesito economia: Minas,
nos últimos 12 anos, deixou de ser um dos Estados mais atrativos do Brasil para
investimentos, caindo da posição de 3º mais competitivo para 6º. Essa era uma
posição histórica de Minas Gerais, ao lado de Rio de Janeiro e São Paulo,
porém, na gestão de Aécio Neves do PSDB, as coisas mudaram e o Estado perdeu
competitividade.
Marina
Silva, atualmente no PSB, também entra com a crítica da inflação alta.
Curiosamente a fórmula econômica dela para reduzir a inflação é dar autonomia
jurídica ao Banco Central e diminuir crédito imobiliário. Ou seja, sua fórmula
é deixar os bancos ganharem mais dinheiro e cobrarem os lucros que quiserem,
desacelerando a indústria da construção civil, o que vai certamente produzir
desemprego, dentre outras coisas piores, como diminuição da renda dos mais
pobres. Mas pode ser que ela mude de ideia, afinal de contas, ela tem mudado de
ideia sobre seus programas de um dia para o outro. No caso da campanha de
Marina, todo dia podemos ter uma novidade diferente, cada minuto é um flash.
Então, talvez não precisemos nos preocupar com ela estar com o economista do
plano Collor em sua campanha, ou estar com o pessoal do Banco Itaú, acusados de
sonegação de impostos.
Mas
em todo caso a inflação se tornou arma política nessas eleições, uma arma
política da oposição contra o atual governo, contudo, os números mostram que no
caso de Aécio, seus governos, do PSDB, apresentam resultados bem piores do que
os governos em que Dilma esteve participando como ministra e como presidenta.
No caso de Marina, sua crítica vem com uma solução que nos parece desastrosa
para o futuro, além do fato de sua palavra parecer não valer o escrito.
Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela
PUC-MG e Mestrando em História, pelo programa de pós-graduação em História da
UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.
Algumas referências:
http://www.brasil247.com/pt/247/economia/145260/PML-infla%C3%A7%C3%A3o-no-governo-FHC-foi-pior-que-com-PT.htm