O
mensalão, foi, inegavelmente o julgamento mais noticiado até hoje
na história do Brasil, sendo também aquele em que a grande mídia e
a classe média representada por esses veículos de comunicação
mais mostrou interesse em ver uma condenação exemplar. Contudo, o
problema do julgamento é a falta de provas, de forma que a tese da
defesa e dos condenados precisa ser constantemente silenciada, assim
como os documentos apresentados pelos réus atualmente condenados,
caso contrário, o caso vai por água abaixo, pois seria difícil
para a grande mídia, mesmo tendo ela seus interesses, falar
abertamente e defender uma condenação quando as provas mostram tão
claramente o contrário.
O
julgamento do mensalão lembra muito o famoso caso Dreyfus, onde um
indivíduo, no fim do século XIX, foi condenado por espionagem
somente por ser um judeu, embora não houvesse provas de sua culpa e
houvesse provas em abundância de sua inocência. Naquele episódio,
os militares, a extrema direita, os anti-semitas e o judiciário
formado por classes abastadas conservadoras e das elites fizeram o
que podiam para condenar Dreyfus, pois aquilo era o que lhes
interessava politicamente, e para isso esconderam provas e fizeram o
que podiam para convencer a opinião pública da tese que defendiam,
embora ela tenha acabado por ir por terra, quando as provas da
inocência do condenado começaram a ser amplamente divulgadas.
O caso
do mensalão se mostra semelhante. Dirceu e Genuíno não estão
condenados porque cometeram crimes, mas sim porque são petistas,
assim como Dreyfus foi porque era um judeu. Não há provas contra
eles e na verdade há provas amplas de inocência, que foram
apresentadas aos juízes e que sumiram do inquérito sem que se desse
qualquer satisfação sobre o paradeiro desses documentos. Assim, o
que temos que nos perguntar é qual os interesses nessas condenações
e quem possui esses interesses.
O
judiciário brasileiro, sobretudo o STF, é formado por indivíduos
das elites, bem como nossa grande mídia. Esses indivíduos estão
descontentes com o atual governo do PT, pois esse governo, chamado
por eles de populista e assistencialista, mudou a ótica de
governabilidade que havia sido implantada no Brasil, em que se
produzia uma política elitista e se mantinha o povo a margem da
sociedade, sem acesso a ensino superior e técnico, sem acesso a
empregos e renda e sem acesso ao consumo. E talvez os dois maiores
responsáveis por levar o ex-operário que fez tudo isso a
presidência da república foram exatamente Dirceu e Genuíno, que
agora são condenados sem provas, através da acusação de um
deputado inimigo, que denunciou e foi tido pelo judiciário como um
acusante idôneo, como se o mesmo não tivesse interesses na
condenação.
No fim
das contas, temos mais um caso Dreyfus ou ainda, mais um julgamento
como o do Mandela. Qualquer um quer parar de ler somente o que a
grande mídia diz sobre o caso e começar a ler os questionamentos,
ou seja, ouvir os dois lados, vai no mínimo ver que tem algo errado
nessa história. Onde estão as provas de desvio de dinheiro, de
compra de votos, e de irregularidades? Quem foram os deputados que
venderam os votos? Onde estão as provas que incriminam Dirceu e
Genuíno? Não existe uma gravação telefônica, um contra-cheque ou
extrato bancário, não há um documento que incrimine, enquanto há
vários que inocentam. Mas eles não foram condenados porque
cometeram crime de corrupção. Eles foram condenados porque
cometeram o crime de serem petistas, de serem de um partido que está
contra os interesses de nossas elites. Eis mais um caso Dreyfus, onde
o crime é ser diferente daquilo que as elites e a extrema direita
acha certo.
Átila
Siqueira.
Átila
Siqueira é historiador, formado como Bacharel em História pela
PUC-MG, e também é escritor.