Uma greve foi chamada
para o dia 11/07/2013 em todo o país. Estão convocando uma greve
geral, porém, não se sabe muito bem quem está convocando a greve e
muito menos qual é a pauta do movimento. Em cada lugar eu tenho
visto pautas diversas e, muitas delas são mesmo desconexas e
incoerentes umas com as outras, isso para não falar nas pautas
genéricas que não chegam a lugar nenhum, como pautas quem dizem:
“Pelo fim da corrupção”.
Vários sindicatos já
avisaram que não estão aderindo a greve, outros estão aderindo
para aproveitar e reivindicar causas específicas. Bom, mas uma greve
geral não deveria ser uma greve de todos ou pelos menos de todo o
país em torno de uma pauta? Qual a reivindicação que une todas
essas pessoas? E de fato, qual são os interesses reais e políticos
por trás de quem convocou esse movimento? Qual a extensão desses
grevistas? Quem são? O que querem? São muitos, poucos? São a maior
parte da população? Essas são somente algumas perguntas que
podemos nos fazer, afinal de contas, questionar deveria ser algo mais
do que óbvio em uma democracia onde se pretende melhorar o país.
Eu tenho percebido que
não só essa greve, como a tal greve geral do dia 01/07/2013, que
acabou em fiasco, foram chamadas por grupos muito distintos da
sociedade, notadamente pela classe média e por sindicatos patronais,
como o sindicato patronal de caminhoneiros que foi um dos principais
articuladores da greve geral do dia 01. Tenho percebido também que
as pautas são difusas e os manifestantes não sabem muito bem o que
querem. Eles querem um Brasil melhor, sem corrupção, com mais saúde
e educação. Pelo menos é o que a maior parte deles dizem, sem
produzirem propostas mais concretas sobre o assunto. No geral são
jovens da classe média e existe uma tendência a repudiar todos os
partidos políticos.
O que eu tenho a dizer
é que uma greve sem sindicatos de trabalhadores, sem pautas reais e
que mesmo assim almeja parar o país todo (embora eu creia que isso
não acontecerá de fato) só pode ter objetivos eleitorais. Não que
todos os manifestantes estejam com esse objetivo, mas creio que os
principais articuladores estejam.
Eu tenho para mim que
o principal objetivo de tudo isso seja causar desgaste a gestão da
Presidenta Dilma Roussef, que tentará se reeleger nas eleições de
2014.
Se o objetivo é
derrubar a Dilma, tudo bem, pois é legítimo que em uma democracia
se trabalhe por objetivos políticos. O problema é tentar colocar
todos os problemas do Brasil na conta da presidenta, e na conta de
seu antecessor, o ex-presidente Lula. Isso vem em grande parte
acontecendo, a conta tem caído em seu colo, o que mostra uma certa
ardilosidade por parte de alguns e uma ingenuidade e falta de
conhecimento por parte de outros.
A grande mídia tem
tentado enfatizar nas manifestações aquilo que lhe é conveniente,
clamando por um patriotismo que qualquer um que passou da 6ª sem
dormir nas aulas de história sabe que é no mínimo nocivo a
sociedade. Essa mesma mídia tenta colocar os problemas na conta da
presidenta e do pt, omitindo as responsabilidade de outros poderes da
república, como prefeituras, governos estaduais, ministérios
públicos, poder judiciário, câmara dos deputados, Senado,
assembleias municipais, estaduais e federal.
Para piorar a
situação, tenta-se produzir a ideia de crise, falando-se em
inflação, embora ela esteja no mesmo nível que sempre esteve desde
a adoção do Plano Real; em crise econômica, embora o Brasil esteja
crescendo no mesmo patamar dos demais países do mundo, e em crise na
saúde e na educação, embora o Brasil tenha avançado como nunca
nas duas áreas nos últimos 10 anos, pois melhorou muito a educação,
com Prouni, Reuni e outros programas e com investimentos recordes na
área, e ampliou o número de atendimentos no SUS de forma
extraordinária. E claro, os problemas do SUS, da educação e até
do transporte público, todos de alçada dos Estados e Municípios,
são jogados de paraquedas no colo da presidenta por uma mídia que
tem interesses políticos, por líderes políticos que também
possuem os mesmos objetivos da grande mídia, e por uma massa de
jovens que deseja melhorias e que está indo na onda, sem saber muito
bem do que se trata a situação e a quem culpar exatamente.
Os mais revoltados são
da classe média, pois se viram tendo de dividir privilégios com as
classes mais pobres ascendentes, pois é inegável que nos dois
governos petistas os mais pobres tiveram oportunidades que jamais
tiveram antes, como emprego, aumento substancial de renda, acesso a
universidade, a carro, a casa própria, a boa alimentação e a
cursos e oportunidades diversas, enquanto a classe média ficou
estagnada, sem receber novas melhorias e muitas vezes perdendo
status. Mas como o Brasil, embora tenha melhorado em vários
aspectos, ainda deixa muito a desejar em seus serviços públicos, as
manifestações ganham apoio popular, embora continuem tendo como
sujeitos ativos essencialmente a classe média, que também não sabe
muito bem o que reivindicar e reivindica melhoras que já estão
acontecendo em todo o país, embora em ritmo que não os agrada.
Eles saem a rua para
pedir mais educação e saúde ao governo que mais deu isso ao povo
até hoje.
A situação de
insatisfação geral é também fruto de uma sociedade que vem se
tornando cada vez mais exigente, exatamente porque tem oportunidades
para isso, pois obteve melhorias, e agora deseja ainda mais. Contudo,
isso pode ser um tiro no pé, pois as manifestações podem gerar
consequências distantes daquelas almejadas, retirando a presidência
do partido que já vem promovendo tais reformas e entregando o cargo
ao candidato que não tem compromisso com a maior parte das
reivindicações que estamos vendo nas ruas. É o que eu sempre tenho
dito aos meus amigos dos partidos de ultra-esquerda, como PSTU, PSOL,
PCO, PCR e mesmo os sem partidos, que estão nas ruas. Eu digo a eles
o seguinte: Vocês estão preparados para arcar com as consequências
reais que podem advir dessas manifestações? Vejam bem, vocês não
possuem candidatos reais para o pleito de 2014, não possuem nenhum
candidato de esquerda com chances reais, então, se derrubarem o pt,
vão construir a candidatura da direita, do PSDB, de Aécio Neves.
Vocês estão preparados para ajudar e servirem, mesmo sem querer,
como cabos eleitorais do Aécio Neves? É isso que vocês querem?
Vocês querem mesmo ajudar o Aécio Neves a se tornar presidente? Ou
então ajudar o Serra? Vocês realmente preferem o PSDB ao PT na
presidência? Vejam bem, vocês podem até não estarem trabalhando
para isso diretamente, mas percebam, a mídia e o PSDB usarão seus
protestos a favor de interesses próprios, vocês queiram ou não, e
os protestos vão cair na conta da Dilma, logo, vocês estarão sendo
oposição ao governo dela e ajudando a oposição a voltar ao poder.
No fim das contas, a
tal greve geral, pelo que tudo indica, não vai passar muito de mais
um movimento de classe média no Brasil. O povo mesmo não está
fazendo greve, salvo algumas exceções. Vai ser mais um movimento
sem pauta reivindicatória real, sem grande adesão, mas que sim,
pode causar grande impacto político e desgaste. Nos resta saber,
então, a quem de fato tem interessado tudo isso. Ao meu ver não tem
sido de interesse do trabalhador mesmo, do trabalhador de verdade,
pois o trabalhador brasileiro, os mais pobres, a grande maioria da
população, foi beneficiada como nunca antes, com emprego, com
ampliação de sua renda, com acesso a estudos e a oportunidades. O
trabalhador, gostemos ou não, foi beneficiado por esse governo que
está ai, e mesmo que seja levado a se opor a ele, creio eu que
depois pode haver arrependimento, quando o desemprego bater a porta
de novo e vários benefícios e oportunidades desaparecerem, caso o
PT saia da presidência e uma outra gestão, com outros objetivos, a
substitua.
Eu vi também grupos
de esquerda dizendo que irão as ruas e tentarão produzir suas
demandas, mas acho que o movimento será mesmo mais um movimento
coxinha, de classe média, muito mais reacionário do que
revolucionário, com pautas genéricas, com pouca informação e
informações manipuladas pela grande mídia, com um patriotismo sem
senso crítico, com medo de reformas e clamando por ideias e
reivindicações que dificilmente se sustentariam em um debate
racional, tal como os nosso médicos, que não querem perder seus
privilégios. Duvido muito que se torne uma greve geral, pois greve é
outra coisa. Eu só acho uma pena ver que as pessoas, em grande
parte, não busquem informações sobre as coisas e saiam as ruas
para protestar sem saber de fato do que se trata o protesto ou pelo
que protestar exatamente. E o pior é que dependendo do resultado que
esses protestos gerem, podemos ainda piorar a situação, pois certos
resultados eleitorais podem reduzir ainda mais o nosso público
leitor, reduzindo vagas nas universidades e piorando a nossa
educação, com cortes no orçamento e choques de gestão, o que
provavelmente diminuirá a nossa classe pensante e questionadora até
que ela vire pó, se é que me entendem.
Átila
Siqueira.
Átila Siqueira é
Bacharel em História pela PUC-MG e escritor.