Image and video hosting by TinyPic

22 agosto 2013

A retomada do julgamento do Mensalão.

Postado Por: Átila Siqueira.  |  Em:


No último dia 14 o julgamento do Mensalão foi retomado, para que os ministros do Supremo Tribunal Federal julguem os recursos dos condenados. Em meio a isso a mídia já vem se posicionando novamente, clamando por condenações e falando de novo em nome do povo, com slogans como: “o povo deseja ver justiça. O povo está cansado de impunidade e corrupção” e etc. O mais interessante é que a mesma mídia, que diz que o povo está cansado de corrupção, não fala muito do recente escândalo envolvendo o metrô de São Paulo, não fala das acusações contra Aécio Neves em Minas Gerais, não falou nada sobre as graves acusações feitas no livro a Privataria Tucana, dentre tantas outras coisas envolvendo possíveis casos de corrupção do PSDB.
Outra coisa interessante é que a mídia não só já tomou partido, enfatizando desde o início que os acusados precisam sair condenados, como também não se prestam a fazer o próprio papel de imprensa, falando dos erros que estão sendo apontados no julgamento por juristas, jornalistas, livros e outros meios de comunicação, como se tais questionamentos não pudessem ou não fossem relevantes de serem noticiados, mesmo quando o julgamento em si e a tese da acusação é noticiado exaustivamente. Ao mesmo tempo, vemos muitas pessoas embarcarem na ideia da condenação, dizendo, inclusive, que há recursos demais, que deveria haver condenação imediata e coisas do tipo, sem se quer compreenderem os princípios básicos de um julgamento em uma democracia e em um Estado de Direito.
Se essas pessoas soubessem do que se trata um julgamento, se elas soubessem que justiça é diferente de ações de justiceiros, elas entenderiam coisas simples, como o fato de que todo réu tem a prerrogativa da inocência, ou seja, que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário, e que quem precisa provar a culpa é a acusação. Essas pessoas também entenderiam que testemunhos são provas circunstanciais, sobretudo quando o testemunho vem de pessoas que podem ter interesses diversos na condenação daqueles que estão sendo acusados, de forma que o testemunho tem validade real apenas quando vem corroborando o que a documentação diz, ou então quando vem de pelo menos um número mínimo de pessoas tidas como idôneas frente a interesses em um caso. Por último, essas pessoas saberiam que a qualquer acusado ou condenado vale o direito a recorrer em todas as instâncias possíveis, ao passo que isso também pode aumentar penas, diminuí-las ou extingui-las.
Para alguns isso pode parecer direitos demais, como eu tenho visto ser comentado por ai, mas essas mesmas pessoas não entendem ou não sabem que é isso que garante que o indivíduo não seja condenado sem ter cometido crime, ou seja, é isso que garante que você, eu, seus parentes, seus amigos, seus inimigos e todo mundo não seja pego por engano pela polícia, por estar vestido com roupa parecida, por ser fisicamente parecido ou por outro motivo qualquer. Há pouco tempo aconteceu um caso assim aqui na cidade onde eu moro, Belo Horizonte. Vou falar do caso apenas para exemplificar, pois ele não tem nada a ver com o julgamento do Mensalão. O caso foi assim: uma moça foi estuprada perto de uma construção e os trabalhadores da obra foram atribuídos como os principais suspeitos pela polícia. Os rapazes foram linchados, mas não foram mortos porque a polícia interviu. Rapidamente os revoltadinhos de plantão criticaram a polícia e os direitos humanos, dizendo que estavam defendendo estupradores, que era um absurdo, que deveriam ter deixado a população linchar e fazer justiça, para servir de exemplo. Poucos dias depois os exames de sêmen e os de corpo de delito comprovaram que não foram os rapazes e que foi outra pessoa, que se não me engano, já foi até capturado e está respondendo na cadeia.
Agora, imaginem se tivéssemos deixado os rapazes serem linchados? Imagine se entre esses rapazes estivesse você, ou seu parente, seu amigo de infância, seu filho, e que ele fosse brutalmente assassinado sem ter cometido nenhum crime? E percebam, eu não estou aqui defendendo estuprador e bandido, eu estou defendendo os direitos de todos de terem ampla defesa, de terem o direito de serem investigados e de provarem a sua inocência. Eu sempre fui a favor de penas mais duras para vários crimes, dentre os quais o crime de estupro e também para o crime de corrupção, só que isso não quer dizer que devemos sair julgando sem escutar os dois lados da história e sem investigar a fundo, ouvir todos os questionamentos, para que então de fato se possa fazer justiça, afinal de contas, se você é a favor de prender e até de matar sem que façamos todas as investigações, então amanhã pode também acontecer com você. Você pode ser amanhã confundido com um estuprador, com um ladrão, com um assassino, e ser preso ou morto sem ter o direito de dizer que não foi você, sem ser ouvido. O direito a ampla defesa, e também de não ser pré-julgado, é aquilo que garante que as provas serão de fato levadas em conta, pois justiça se refere a punir alguém com base em provas, e não com base apenas no desejo de ver alguém pagar por algo que aconteceu ou ainda, que supostamente aconteceu.
Esse é exatamente o caso do mensalão, pois os dois lados não tiveram voz. Será que a maioria das pessoas sabe que existe uma acusação de sumiço de documentos no processo? Será que as pessoas sabem que não existe nenhum documento que realmente prove que houve compras de votos? Será que essas pessoas sabem que houve tratamento diferenciado nesse julgamento por parte da imprensa e do próprio Supremo, ao não desmembrar o caso e a interpretar a constituição de forma diferente no caso de perca de mandato de deputados? E ainda, será que as pessoas sabem que existem indícios de que há interesses políticos por trás desse julgamento e por trás da cobertura e da forma de cobertura feita pela mídia? Será que esses e outros questionamentos são tão ruins assim? Se não tem problema nenhum, se esses questionamentos são mentira, porque então a mídia não fala deles abertamente e não coloca a questão em debate? Procurem as informações por vocês mesmos, e vocês vão ver que existem uma série de questionamentos ao julgamento, e pior, ele corre o risco sério de ser anulado em uma corte internacional, pois se os erros que estão sendo apontados forem verdadeiros, uma corte internacional poderá anular as condenações e até mesmo condenar os juízes por fraude. E em uma corte internacional fica mais difícil sumir provas, pois nela existem olheiros de todo o mundo e sempre alguém dá o grito.
Um julgamento em que o Procurador Geral da República inicia dizendo que não há provas porque quadrilha não deixa provas, e onde ministros votam dizendo que não há provas da culpa, mas que vão condenar porque podem, é no mínimo algo a ser questionado por qualquer um que tem o mínimo de senso crítico, seja lá quem estiver sendo julgado. Isso para não falar na postura do Ministro Joaquim Barbosa, que parece não aceitar debates que fujam do seu ponto de vista, xingando, ofendendo e agindo fora do decoro contra qualquer um que ouse a questioná-lo ou que ouse a pensar diferente dele.
O amplo direito de defesa foi negado aos acusados, sobretudo pela mídia, que encabeçou a ideia, desde o início de que se não houvesse condenações o julgamento estaria acabando em pizza. E aparentemente os juízes se deixaram levar pela pressão da mídia e pela pressão popular construída pela mídia, que pré-condenou os acusados antes do julgamento. Só que agora os questionamentos se espalham e será difícil sustentar esse julgamento e sua falta de provas, sobretudo porque os interesses políticos parecem aparecer a todo momento em denúncias, onde vemos Barbosa posando ao lado de políticos do PSDB, como Aécio Neves e Anastasia, ou ao lado de militantes famosos do PSDB, como Luciano Hulk, que ainda deu emprego ao filho do ministro. Isso sem contar na predileção partidária da Globo, revista Veja e outros grupos da imprensa pelo PSDB e os casos de sonegação e corrupção que aparecem sendo atribuídos a Globo e que não são investigadas e julgadas pelo Supremo. Ou seja, no fim das contas, uma rede de interesses e emaranhados vai surgindo pouco a pouco por trás desse julgamento, que vai sendo cada dia mais questionado, primeiramente pela falta de provas, depois pelos interesses que podem haver na condenação de certas pessoas, para beneficiar o grupo político rival e o grupo empresarial que tem interesses diferentes daqueles propostos pelo partido dos acusados no julgamento.
O que eu digo então, no final das contas, é que cada um busque entender o caso da melhor forma possível, e por si só. Não confiem cegamente na grande mídia, pois ela tem seus interesses. Sejam pessoas inteligentes e se querem se posicionar sobre o assunto, então leiam as argumentações dos dois lados. Depois de ler as duas argumentações, então se posicionem como acharem melhor. Isso é ser cidadão. Isso é ser uma pessoa pensante. Mas lembrem-se, direito a ampla defesa é algo que é para todos, e direito de ser acusado e ouvido também é, e isso não está acontecendo nesse caso, assim como em muitos outros, e vão usar isso politicamente nas eleições presidenciais do ano que vem.
O PT pode ter seus problemas, mas eu não conheço nenhum governo que tenha feito mais pelo povo no Brasil, pelo povo de verdade, pelos marmiteiros, ainda que tenha muito a se fazer no Brasil. Ao mesmo tempo a grande mídia quer encabeçar novamente a candidatura do PSDB, que em seus governos federais e estaduais, ao meu ver, nunca fez nenhuma grande política voltada para o povo, para os mais pobres, aqueles que mais precisam do governo para conseguirem estudar, para conseguirem emprego e abandonarem a pobreza. E se formos falar de corrupção, então joguem na internet e verão os casos de corrupção em que o PSDB se vê acusado. Essa é a questão que na verdade está em jogo, as eleições de 2014, e há interesses nela por parte das mídias, que por isso noticiam certas coisas e se omitem de outras, encabeçam condenações e pressionam para que seus objetivos sejam atingidos.


Átila Siqueira.


Átila Siqueira é historiador, formado como Bacharel em História pela Puc-MG, é escritor e colunista e Editor-Chefe do Blog: Brasil em Discussão.

Copyright © 2013 Brasil em Discussão. Traduzido Por: WST Design.